Nas trilhas do caminho Tudo tem seu tempo, sua hora, Sua alegria exata, seu sustento. Rosa in "Feito rio menino"


quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Darfur

Estamos descalços 
ninguém nos vê
nos mapas de viagem 
ninguém se lembra da gente

estamos com os olhos
marejados de fome e solidão
nos falta comida, afeto, atenção

nos roubaram tudo
a vida aos poucos se esvaindo

nos roubaram o pouco
que tinhamos:
a terra para cultivar,
as nossas casas,
nosso sonhos mais caros
e singelos

os meninos e as meninas
vagam sem ter lugar
onde brincar, onde criar suas estórias,
suas fantasias e invenções
fundamentais

onde estamos ninguém sabe
os que sabem nem divulgam
o paradeiro

o capital armado não sente nada
apenas mata, fuzila, sufoca 
aniquila gente como se nada fosse

não ouve o choro sentido
desolador
nem os gritos de dor de tanta gente

por que tanta gente tem que sofrer
tanta dor por causa do egoísmo alheio?
por que tal opressão, tanta humilhação?

por que tanta gente fica indiferente
vendo isto como se nada fosse?
como se fosse melhor que qualquer 
humana criatura?

a gente olha as poucas imagens
e se revolta e chora, não aceita isso 
de modo algum

muito a fazer, por onde começar?
sempre há algo a fazer

sou pequena, uma luzinha tímida,
quem sabe faça diferença com outros
ao me juntar 
ser uma presença, ao menos,
para acalmar um pouco essa dor
que me choca, me inquieta,
me questiona e que exige
a minha ação decidida

não posso mais me omitir

são gente da minha parentela
de longas datas, também.

Rosa Bautista Machado

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